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O Ministério 
do Espírito 
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A total sufuciência de Cristo Parte 2

A pessoa de Cristo para o coração

 

Tendo revisado até aqui as verdades fundamentais relacionadas com a obra de Cristo por nós –sua obra no passado e sua obra no presente– sua expiação e sua intercessão, devemos agora tentar, pela graça do Espírito de Deus, apresentar ao leitor algo daquilo que as Escrituras nos ensinam quanto ao segundo tema do nosso assunto, ou seja, Cristo como um objeto para o coração.

 

Trata-se de algo maravilhosamente bendito poder dizer: «Encontrei a Alguém que satisfaz plenamente o meu coração – encontrei a Cristo». É isto o que nos põe verdadeiramente no topo do mundo. Torna-nos completamente independentes dos recursos aos quais o coração inconverso sempre se apega. Concede-nos um descanso permanente. Dá-nos uma calma e quietude de espírito que o mundo não pode compreender. O pobre amante do mundo pode pensar que a vida do cristão é muito estática, insípida, chegando inclusive a ser uma ocupação idiota. Talvez ele fique espantado de ver como alguém pode viver sem aquilo que ele chama «diversão». Privar o inconverso daquilo seria quase o mesmo que levá-lo ao desespero ou à loucura; mas o cristão não deseja tais coisas – ele não as praticaria. Elas são inclusive um aborrecimento para ele. Falamos aqui, evidentemente, do verdadeiro cristão, de alguém que não é um mero cristão de nome, mas de verdade.

 

O que é um cristão? É um homem celestial, um participante da natureza divina. Ele está morto para o mundo –morto para o pecado– vivo para Deus. Não tem nem sequer uma conexão com o mundo: pertence ao céu. Assim como Cristo, o seu Senhor, ele não pertence mais ao mundo. Poderia Cristo tomar parte nas diversões e festejos deste mundo? A própria idéia disso seria uma blasfêmia. Bem, então, o que dizer do cristão? Ele pode tomar parte em coisas que ele sabe em seu coração que são contrárias a Cristo? Pode ir a lugares, freqüentar ambientes e envolver-se em circunstâncias onde, ele tem que admitir, o seu Salvador e Senhor não pode tomar parte? Ele pode ter comunhão com um mundo que odeia a Aquele a Quem ele professa dever todas as coisas?

 

Talvez a alguns dos nossos leitores possa parecer que estamos falando de um terreno muito elevado. A estes perguntamos: Que terreno devemos tomar? Certamente, o terreno cristão, se formos cristãos. Bem, então, se devemos assumir uma posição cristã, como podemos saber o que é uma posição cristã? Evidentemente, procurando no Novo Testamento. E o que é que ensina ali? Acaso ele dá alguma autorização para que o cristão se misture, em qualquer forma ou medida, com as diversões e os vãos desejos deste presente século mau? Escutemos com atenção as importantes palavras do nosso bendito Senhor em João 17. Escutemos dos seus próprios lábios a verdade quanto a nossa porção, nossa posição, e nosso caminho aqui neste mundo. Ao dirigir-se ao Pai, ele diz: «Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os aborreceu, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Não rogo que os tire do mundo, mas que os guarde do mal. Não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Santifica-os em tua verdade; a tua palavra é a verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim eu os enviei ao mundo» (João 17:14-18).

 

Será possível conceber uma medida mais próxima de identificação da que nos apresenta nestas palavras? Por duas vezes, nesta breve passagem, nosso Senhor declara que não somos do mundo, assim como ele também não o é. O que o nosso bendito Senhor tinha que ver com o mundo? Nada. O mundo o rejeitou completamente e o expulsou. O mundo o cravou em uma vergonhosa cruz, entre dois malfeitores. O mundo continua atual e plenamente sob a acusação de tudo isso como se o ato de crucificação tivesse ocorrido ontem, bem no centro de sua civilização e com o consentimento unânime de todos. Não existe nem sequer um vínculo moral entre Cristo e o mundo. Sim, o mundo está manchado com o seu assassinato, e nada tem que dizer a Deus a favor do seu crime.

 

Que solene é isto! Que assunto sério para ser considerado pelos cristãos! Estamos passando por um mundo que crucificou o nosso Senhor e Mestre, e ele declara que não somos deste mundo, assim como ele também não é. Daí que se tivermos alguma comunhão com o mundo estaremos sendo falsos para com Cristo. O que pensaríamos de uma esposa que se sentasse, risse, e contasse anedotas com um grupo de homens que tivesse assassinado o seu marido? É exatamente o que os cristãos professantes estão fazendo quando se misturam com o presente século mau, e se fazem parte e porção dele.

 

Talvez alguém pergunte: O que devemos fazer? Devemos sair do mundo? Não. Nosso Senhor disse expressamente: «Não rogo que os tire do mundo, mas que os guarde do mal» (Jo. 17:15). No mundo, mas não do mundo, é o verdadeiro princípio para o cristão. Para nos valer de uma figura, o cristão no mundo é como um mergulhador equipado com um escafandro. Ele está imerso em um elemento que o destruiria se não estivesse protegido de sua ação, e mantido por uma contínua comunicação ambiente que está em cima dele.

 

O que o cristão deve fazer com o mundo? Qual é a sua missão aqui? Esta: «Como tu me enviaste ao mundo, assim eu vos enviei ao mundo». «Como me enviou o Pai, assim também eu vos envio» (João 17:18; 20:21).

 

Tal é a missão do cristão. Ele não deve encerrar-se entre as paredes de um monastério ou convento. Nada disso. Somos chamados para estar ocupados nas diversas responsabilidades da vida, e para atuar nas esferas que nos são divinamente atribuídas, para a glória de Deus. Não é um assunto do que estamos fazendo, mas sim de como o estamos fazendo. Tudo depende do objeto que governa os nossos corações. Se for Cristo quem comanda e cativa o coração, tudo estará bem; se não for ele, nada estará bem. É nosso doce privilégio colocar o Senhor sempre diante de nós. Ele é o nosso modelo. Assim como ele foi enviado ao mundo, nós também o somos. O que ele veio fazer? Glorificar a Deus. Como ele viveu? Pelo Pai. «Como me enviou o Pai vivo, e eu vivo pelo Pai, deste modo aquele que come de mim, ele também viverá por mim» (Jo. 6:57).

 

Isso torna tudo muito simples. Cristo é o patrão e a chave de tudo. Já não se trata meramente de uma questão de que algo seja correto ou incorreto de acordo com as regras humanas; é uma questão do que é digno de Cristo. Faria ele isto ou aquilo? Ele iria lá ou acolá? Ele nos deixou «exemplo, para que sigamos as suas pisadas» (1ª Ped. 1:21). E com toda segurança, nunca deveríamos ir aonde não pudéssemos perceber as suas benditas pisadas. Se formos de um lado a outro só para satisfazer a nós mesmos, não estaremos seguindo suas pisadas, e não podemos esperar desfrutar de sua bendita presença.

 

Aqui está o verdadeiro segredo de todo o assunto. A grande questão é esta: Cristo é o meu objeto? Para que estou vivendo? Posso dizer que «a que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e a si mesmo se entregou por mim»? (Gál. 2:20). Nada menos que isto é o que corresponde a um cristão. Trata-se de algo muito miserável estar contente só sendo salvo, e em seguida seguir adiante abraçados com o mundo, vivendo para a satisfação própria e em busca dos próprios interesses – aceitar a salvação como o fruto da paixão e aflição de Cristo e depois viver longe dele. O que pensaríamos de um menino a que só lhe importam as coisas boas que o pai lhe dá, e que alguma vez procura a companhia de seu pai, preferindo a companhia de estranhos? Certamente seria alguém digno de desprezo. Quão desprezível é o cristão que deve todo o seu presente e o seu futuro eterno à obra de Cristo e, mesmo assim se contente em viver a uma fria distância de sua bendita Pessoa, sem preocupar-se nem um pouco com o fomento da sua causa – com a promoção da sua glória!

 

 

A palavra de Cristo para o caminho

 

Para terminar, devemos fazer uma breve referência ao terceiro e último tema do nosso assunto: A Palavra de Cristo como a guia todo suficiente para o nosso caminho.

 

Se a obra de Cristo é suficiente para a consciência; se a sua bendita Pessoa for suficiente para o coração; com toda segurança, a sua preciosa Palavra é suficiente para o caminho. Podemos admitir, com toda a confiança possível, que possuímos no divino volume das Sagradas Escrituras tudo o que poderíamos necessitar, não só para atender as necessidades do nosso caminho individual, mas também para as variadas necessidades da Igreja de Deus, nos mínimos detalhes de sua história neste mundo.

 

Estamos bem conscientes de que ao fazer tal afirmação nos expomos a muito escárnio e oposição, procedentes de mais de uma direção. Seremos confrontados, por um lado, com os que defendem a tradição e, por outro, por aqueles que lutam pela supremacia da razão e vontade humanas. Mas isso nos preocupa muito pouco. Consideramos as tradições dos homens, eles sejam de pais, irmãos ou doutores, quando são apresentados como provindo de alguma autoridade, como uma partícula de pó em uma balança; e no que se refere ao racionalismo humano, só pode ser comparado a um morcego posto ao sol do meio-dia, cego pela luz, e lançando-se contra obstáculos que não pode ver.

 

É motivo de profundo gozo para o coração do cristão poder escapar das chatas tradições e doutrinas dos homens e entrar na tranqüila luz das Sagradas Escrituras, e ao estar diante dos imprudentes raciocínios do ímpio, do racionalista, do cético, sujeitar todo o seu ser moral à autoridade e o poder das Sagradas Escrituras. Ele reconhece, com gratidão, na Palavra de Deus o único padrão perfeito para a doutrina, moral, e todo o resto. «Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para replicar, para corrigir, para instruir em justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, inteiramente preparado para toda boa obra» (2ª Tim. 3:16-17).

 

 Que mais podemos necessitar? Nada. Se as Escrituras podem fazer a um menino «sábio para a salvação», e se elas podem tornar um homem «perfeito e inteiramente preparado para toda boa obra», o que nós temos que ver com a tradição ou com o racionalismo humano? Se Deus escreveu um volume para nós, se ele condescendeu em nos dar uma revelação do seu pensamento, quanto a tudo o que devemos conhecer, pensar, sentir, crer e fazer, nos voltaremos para um pobre mortal semelhante a nós –seja ele ritualista ou racionalista– para nos ajudar? Longe de nós tal pensamento! Seria o mesmo que nos voltássemos para o nosso semelhante a fim de acrescentar algo à obra consumada de Cristo, a fim de fazê-la suficiente para a nossa própria consciência, ou suprir o necessário para cobrir alguma deficiência que encontrássemos na Pessoa de Cristo a fim de fazê-lo suficiente para o nosso coração.

 

Todo louvor e graças sejam dadas ao nosso Deus por não ser este o caso. Ele nos deu, em seu amado Filho, tudo o que necessitamos para a consciência, para o coração, para o caminho aqui –para o tempo, com todos os seus cenários em constante mutações– para a eternidade, com suas eras incontáveis.

 

Podemos dizer: «Tu, Oh Cristo, é tudo o que necessitamos / mais do que tudo em ti encontramos». Não há, nem pode existir, nenhuma falta no Cristo de Deus. A sua expiação e a sua intercessão devem satisfazer todos os desejos da consciência mais profundamente exercitada. As glórias morais –a poderosa atração de sua divina Pessoa– devem satisfazer as mais intensas aspirações e desejos do coração. E sua inigualável revelação –esse volume sem preço– contém, entre as suas etapas tudo o que possamos necessitar, do principio ao fim, em nossa carreira cristã.

 

Leitor cristão: Por acaso estas coisas não são assim? Por acaso você não reconhece a verdade que há nelas, no mais íntimo do seu ser moral renovado? Se assim é, você está descansando, em tranqüilo repouso, na obra de Cristo? Está se deleitando em sua Pessoa? Está se sujeitando, em todas as coisas, à autoridade de sua Palavra? Deus queira que assim seja com você, e com todos os que professam o seu Nome! Possa haver um testemunho cada vez mais pleno, mais claro e mais decidido para a total suficiência de Cristo, até aquele dia.

 

C. H. Mackintosh

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