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Dica de Livros
O Descortinar do drama da redenção
W G. Scroggie
 

 

Com Cristo na Escola de Oração
Andrew Murray
 

 

O Ministério 
do Espírito 
A. J. Gordon
 

 

O Ser negligenciado: O Espírito Santo

“O Espírito Santo”

 

 

Ao negligenciar ou negar a divindade de Cristo os modernistas cometeram um trágico desatino, pois nada lhes fica senão um Cristo imperfeito, cuja morte foi mero martírio e cuja ressurreição é um mito. A atitude do modernista ao negar a divindade de Cristo é culposa, mas nós que nos orgulhamos de nossa ortodoxia, não devemos permitir que a nossa indignação nos cegue para os nossos próprios defeitos, pois nós também temos cometido nos últimos anos um erro crasso na religião, um erro estreitamente paralelo ao dos modernistas. O nosso erro (ou não deveremos dizer francamente, o nosso pecado?) tem sido o de negligenciar a doutrina do Espírito, a ponto de virtualmente negar Seu lugar na Divindade? O nosso credo formal é correto; o rompimento está em naquilo que cremos na forma prática.

 

Uma doutrina só tem valor prático na medida em que ela é proeminente em nossos pensamentos e faz diferença em nossas vidas. Com esse teste, a doutrina do Espírito Santo, conforme é sustentada pelos cristãos conservadores hoje em dia, não tem quase nenhum valor prático. Na maioria das igrejas cristãs o Espírito é inteiramente deixado de lado. Se Ele está presente ou ausente, não faz real diferença para ninguém. Breve referência é feita a Ele nos cânticos e na bênção apostólica. Fora disso Ele bem pode deixar de existir. Nós O ignoramos tanto que é só por cortesia que podemos ser denominados de “Trinitarianos” (os que crêem na Trindade).

   

A doutrina do Espírito Santo é dinamite enterrada. Seu poder aguarda descobrimento e uso pela igreja. O poder do Espírito não será dado a ninguém que dê fraco assentimento à verdade do Espírito. Ele espera por nossa ênfase. Quando o Espírito Santo deixar de ser incidental e voltar a tornar-Se fundamental, o Seu poder se firmará uma vez mais entre as pessoas chamadas cristãs. A idéia do Espírito sustentada pelo membro de igreja comum é tão vaga que quase chega a ser inexistente. Devemos sempre fazer distinção entre ter conhecimento acerca de alguma coisa e conhecê-la na prática.

 

A distinção é a mesma que há entre ter conhecimento sobre alimentos e comê-los de fato. Um homem pode morrer de fome tendo todo o conhecimento a respeito do pão, e um homem pode permanecer espiritualmente morto, embora conhecendo todos os fatos históricos do cristianismo. O conhecimento pela descrição pode levar-nos ao conhecimento pela familiaridade; pode levar-nos, mas não o faz automaticamente. Por isso não nos atrevemos a concluir que, por termos conhecimento a respeito do Espírito, por essa mesma razão O conhecemos de fato. Tal conhecimento só vem por um encontro pessoal com o próprio Espírito Santo. 

   

É tempo de arrepender-nos, pois as nossas transgressões contra a bendita Pessoa do Espírito Santo têm sido muitas e mui graves. Nós O temos maltratado amargamente na casa dos Seus amigos. Nós O crucificamos em Seu próprio templo (nós), como crucificaram o Filho eterno no monte Calvário. E os cravos que usamos não são de ferro, mas de substância extremamente nobre e preciosa, da qual é feita a vida humana.

Dos nossos corações tomamos os refinados metais da vontade, dos sentimentos e do pensamento, e com eles modelamos os cravos da suspeita, da rebelião e da negligência. Com pensamentos indignos a respeito Dele e com atitudes hostis para com Ele, nós O entristecemos e O apagamos dias sem conta.

 

O arrependimento mais verdadeiro e mais aceitável é inverter os atos e atitudes; mil anos de remorso por um ato errado não agradariam tanto a Deus como uma mudança de conduta e uma vida reformada. “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que Se compadecerá dele e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar”. A melhor maneira de arrepender-nos é deixar de negligenciá-Lo, abrir todas as portas e convidá-Lo a entrar, submetendo a Ele todas as salas do templo dos nossos corações e insistindo com Ele para que entre e ocupe, como Senhor e Mestre, o nosso interior que é a Sua habitação. E recordemos que Ele é atraído pelo doce Nome de Jesus como as abelhas são atraídas pela fragrância do trevo. Onde Cristo é honrado o Espírito Se sente bem-vindo; onde Cristo é glorificado Ele Se move com liberdade e satisfação.

 

O Espírito Como Poder

  

Como opera esse poder? Através do Espírito de Deus, diretamente no espírito do homem. Ele pode usar uma mensagem, um cântico, uma boa ação, um texto ou o mistério e majestade da natureza; mas a obra final sempre será feita pela pressão do Espírito vivificante sobre o coração humano. À luz disso se verá quão vazio e sem sentido é o culto na igreja comum hoje. Todos os meios estão em evidência; a detestável fraqueza é a ausência do poder do Espírito. A música, a poesia, a arte, a oratória, os paramentos (roupas) simbólicos e tons solenes se juntam para encantar a mente do adorador; mas com muita freqüência a inspiração sobrenatural não está ali. O poder do alto não é nem conhecido nem desejado, quer pelo pastor, quer pelo povo. Isso é nada menos que trágico e tanto mais porque recai no campo da religião, onde está envolvido o destino eterno dos homens.

   

Com vestígios da ausência do Espírito, pode-se verificar aquela vaga sensação da falta de realidade que quase em toda parte reveste a religião da nossa época. No culto da igreja comum a coisa mais real é a triste ausência de realidade em tudo o que se faz. Aquele que presta culto permanece sentado num estado de indiferença suspensa e fantasiosa e uma espécie de entorpecimento sonolento toma conta dele. Ele ouve as palavras, mas não as registra, não consegue relacioná-las com coisa alguma do nível da sua vida. Tem consciência de ter entrado numa espécie de semi-mundo; sua mente se deixa subjugar por uma disposição mais ou menos agradável, mas que se desvanece sem deixar vestígio com a bênção final. Aquilo não afeta em nada a sua vida diária. Ele não experimenta conscientemente nenhum poder, nenhuma Presença, nenhuma realidade espiritual. Não há nada em sua experiência que corresponda às coisas que ele ouviu do púlpito ou que entoou nos hinos.

   

Um dos sentidos da palavra poder é a capacidade para fazer. Precisamente aí está a maravilha da obra do Espírito na igreja e no coração dos cristãos e da Sua infalível capacidade de tornar as coisas espirituais reais para a alma. A graça, o perdão, a purificação tomam forma com clareza quase física. A oração deixa de ser sem sentido e passa a ser uma suave conversação com Alguém de fato presente. O amor a Deus e aos filhos de Deus toma posse da alma. Sentimo-nos perto do céu e agora é a terra e o mundo que começa a parecer irreal. O mundo vindouro ganha nítido contorno diante das nossas mentes e começa a atrair nosso interesse e a nossa devoção. Então toda a nossa vida se transforma para conformar-se à nova realidade; e a mudança é permanente.

   

Melhor organização, equipamentos mais refinados, métodos mais avançados – tudo é inútil. É como trazer o melhor pulmão de aço depois que o paciente morreu. Todas estas coisas podem ser boas, mas não podem dar vida nem poder: “o Espírito é Quem vivifica”. Não precisamos de mais unidade de organização; a grande necessidade é o poder. As lápides sobre os túmulos nos cemitérios apresentam uma frente unida, mas permanecem mudas e impotentes em relação aos mortos e aos que passam junto delas.

   

Imagino que minha sugestão não receberá muita atenção séria, pois o corpo de cristãos que compõem a ala conservadora da igreja é tão carnal, os nossos cultos públicos em alguns lugares são de tal modo irreverentes e os nossos gostos religiosos estão envelhecidos de tal forma, que dificilmente a necessidade de poder seria maior em qualquer outra época da história. Creio que nosso lucro seria muito maior se declarássemos um período de silêncio e de auto-exame, para que cada um de nós pudesse sondar o próprio coração e procurasse preencher todas as condições necessárias para um real batismo do poder do alto. Somente o Espírito pode mostrar-nos o que está errado conosco e prescrever a cura a fim de nos livrar da paralisante falta de realidade do cristianismo que O omite. Só Ele pode mostrar-nos o Pai e o Filho e só a Sua operação interior pode nos revelar a solene majestade e o empolgante mistério do Deus Triúno. 

 

O Espírito Santo Como Fogo

 

Por não poder dizer-nos como Ele é Deus muitas vezes nos diz com o que Ele Se assemelha. Pelas Escrituras podemos dizer que Sua símile favorita é o fogo: “Nosso Deus é um fogo consumidor”. Ele falou com Moisés do meio de uma sarça em chamas, acompanhou Seu povo na figura de uma coluna de fogo e a Ezequiel Ele Se revelou como o estranho resplendor de “fogo ao redor” (Ez 1.27,28). Depois no Pentecostes o Deus que lhes aparecera como fogo através de toda a sua longa história estava neles como fogo. O Shekinah (glória de Deus), que antes estava sobre o Propiciatório, agora chamejava em suas frontes como um emblema externo do fogo que invadira as suas naturezas. Era a Divindade dando-Se a homens redimidos. A chama era o selo de uma nova união; eles agora eram homens e mulheres que pertenciam ao Fogo. Eis aqui a mensagem final do Novo Testamento: mediante a expiação com o sangue de Jesus, homens pecadores agora podem ser habitados pela Divindade! Infelizmente um dos maiores golpes que o inimigo deu na vida da igreja foi criar uma atitude de medo do Espírito Santo. Em alguns círculos cristãos a simples menção do Seu Nome basta para colocar alguém de lado. Talvez possamos ajudar a diminuir esse temor infundado.

 

O Espírito Santo É Uma Chama Moral

   

Não é por acaso que Ele é chamado de Espírito Santo. Ele, sendo Deus, é absolutamente puro e com Ele não existem degraus de santidade, como acontece com os homens. Não há incoerência maior do que um cristão buscar o enchimento do Espírito estando no pecado. O ideal do cristão não é ser feliz e sim ser santo. Só o coração santo pode ser a habitação do Espírito.

 

O Espírito Santo É Uma Chama Espiritual

   

A chave do Livro de Atos é decididamente da maior importância. Não há nele nenhum sinal da tristeza própria das criaturas, nenhum desapontamento demorado, nem vislumbre de incerteza. A disposição de ânimo é celestial. Por quê? Porque a felicidade moral do Criador tinha feito residência no peito das criaturas redimidas e estas só podiam ser alegres.

 

A Chama do Espírito Santo É Também Intelectual

   

O intelecto não abençoado e ungido pelo Espírito é mortal e frio. Um cérebro superior sem a essência salvadora da piedade pode virar-se contra a raça humana e embeber em sangue o mundo, ou pode soltar na terra idéias que continuarão a amaldiçoar a humanidade durante séculos. Uma alma não abençoada, cheia da letra da verdade, pode realmente ser pior do que um pagão ajoelhado diante de um ídolo. O Espírito Santo não é um luxo; não é algo acrescentado de vez em quando visando produzir um tipo de cristão muito especial, uma vez em cada geração. Não, Ele é uma necessidade para todos.

 

A Chama do Espírito É Também Emocional

   

Uma das maiores calamidades que o pecado trouxe sobre nós é o rebaixamento das nossas emoções normais. Damos risadas de coisas sem graça; achamos prazer em atos que estão abaixo da nossa dignidade humana e nos regozijamos com objetos que não deveriam ter lugar em nossas afeições. A objeção aos “prazeres do pecado” que sempre tem sido característica do verdadeiro santo é, no fundo, apenas um protesto contra a degradação das nossas emoções humanas.

* Que o jogo, por exemplo, seja permitido para aumentar os lucros dos homens feitos à imagem de Deus, parece uma horrível perversão de nobres poderes;

* Que o álcool (drogas, cigarro) seja necessário para estimular a sensação de prazer, parece uma espécie de prostituição;

* Que os homens recorram ao teatro (cinema) feito por homens para se deleitarem, parece uma afronta ao Deus que nos colocou num universo repleto de ações dramáticas.

Os prazeres artificiais do mundo provam apenas que a raça humana, numa larga escala, perdeu a sua capacidade de gozar os verdadeiros prazeres da vida e é forçada a substituí-los por vibrações emotivas falsas e degradantes.

   

A obra do Espírito Santo é, entre outras coisas, a recuperação das emoções do homem redimido, colocando novas cordas em sua harpa e reabrindo as fontes da alegria sagrada que foram retidas pelo pecado. O Espírito Santo quer montar uma harpa eólia (que toca com o sopro do vento) na janela das nossas almas, para que os ventos do céu toquem suave melodia como acompanhamento musical da mais humilde tarefa que tenhamos que realizar. O amor espiritual de Cristo produz constante música dentro dos nossos corações e nos capacita a alegrar até mesmo na tristeza.

 

A Vida na Plenitude do Espírito

 

Antes de ser cheio do Espírito, o homem deve estar certo de que O deseja e isso deve ser levado a sério. Você tem certeza de que deseja ser cheio de um Espírito que, embora semelhante a Jesus em Sua brandura e amor, exige ser Senhor da sua vida? Você está disposto a permitir que a sua personalidade seja substituída por outra, mesmo que essa outra seja o Espírito de Deus? Se o Espírito Se encarregar da sua vida, Ele vai esperar obediência em tudo, sem contestação. Ele não tolerará em você os pecados do ego, mesmo quando permitidos e desculpados pela maioria dos cristãos. Com pecados do ego quero dizer amor próprio, autocomiseração, busca dos próprios interesses, autoconfiança, justiça, engrandecimento e defesa própria.

 

Você verá o Espírito em aguda oposição aos caminhos fáceis do mundo e da multidão mista que se acha nas divisas do cristianismo. Quanto a você Ele será zeloso, para o bem. Ele não lhe permitirá vanglória, fanfarronice ou exibicionismo. Ele tomará de você a direção da sua vida. Ele reservará o direito de prová-lo, discipliná-lo, castigá-lo pelo bem da sua alma. Ele o despojará de muitos daqueles prazeres ambíguos que outros cristãos desfrutam, mas que são para você uma fonte de mal requintado. Em tudo e por tudo, Ele o envolverá num amor tão vasto, um amor tão poderoso, tão abrangente, tão tremendo, que até as suas perdas lhe parecerão lucros, e os seus pesares se tornarão prazeres.

   

A carne reclamará debaixo do jugo do Espírito e murmurará contra esse fardo que é demasiadamente grande para se suportar, mas a você será permitido gozar o solene privilégio de sofrer na carne até preencher “o que resta das aflições de Cristo” por amor do Seu corpo, que é a igreja. Diante destas condições você ainda quer ser cheio do Espírito Santo?

   

Nosso desejo de sermos cheios do Espírito deve ser totalmente consumidor. Um grande obstáculo para a vida cheia do Espírito é a complacência e a negligência. Primeiro precisamos experimentar um período de profunda ansiedade e agitação interna, antes de recebermos essa divina inspiração.

A vida cheia do Espírito não é uma edição de luxo do cristianismo, para ser usufruídos por grupinhos raros e privilegiados, feitos de material mais excelente e mais sensível do que os demais. Pelo contrário, é o estado normal próprio para todo redimido, homem ou mulher, do mundo inteiro. “Cristo em vós, esperança da glória” (Col 1.26,27). 

 

A. W. TOZER

Extraído do livro: A Conquista Divina

Selecionado por: Delcio Meireles

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