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Dica de Livros
O Descortinar do drama da redenção
W G. Scroggie
 

 

Com Cristo na Escola de Oração
Andrew Murray
 

 

O Ministério 
do Espírito 
A. J. Gordon
 

 

A total suficiência de Cristo

A partir do momento em que a alma é levada a sentir a realidade de sua condição diante de Deus – à profundidade de sua ruína, culpa e miséria – não poderá haver descanso até que o Espírito Santo revele ao coração um Cristo pleno e todo suficiente.

 

Esta é a única solução possível, e o remédio perfeito de Deus para a nossa completa pobreza.

 

Trata-se de uma verdade muito simples, mas da maior importância; e podemos dizer com toda a segurança, que quanto mais completa e profundamente o leitor aprender isto para si mesmo, melhor será. O verdadeiro segredo da paz está em descer até o fundo de um eu irremediavelmente culpado, arruinado e sem esperanças, e aí encontrar um Cristo todo suficiente como a provisão de Deus para a nossa mais profunda necessidade. Isto é verdadeiramente descanso – um descanso que nunca pode ser perturbado.

 

Neste artigo nos propomos mostrar ao leitor necessitado, que em Cristo se encontra entesourado para ele tudo o que possa chegar a necessitar, seja para atender as necessidades de sua própria consciência, os ardentes desejos do seu coração, ou as exigências do seu caminho.

Procuraremos provar, pela graça de Deus, que a obra de Cristo é o único lugar de repouso verdadeiro para a consciência; que a sua Pessoa é o único objeto para o coração; e que a sua Palavra é a única guia verdadeira para o caminho.

 

A obra de Cristo para a consciência

 

Ao considerar este importante assunto, há duas coisas que exigem a nossa atenção: primeiro, o que Cristo fez por nós; segundo, o que ele está fazendo para nós. Na primeira, temos a expiação; na última, a intercessão como Advogado. Ele morreu na cruz por nós: ele vive para nós sentado no trono.

 

a) O que Cristo fez por nós

 

Por sua preciosa morte expiatória ele supriu plenamente tudo o que tinha que ver com nossa condição de pecadores. Ele carregou os nossos pecados, e os levou de todo e para sempre. Ele levou a culpa por todos os nossos pecados – os pecados de todos os que crêem em seu nome. O Senhor carregou nele todas as nossas iniqüidades (Is. 53). «Porque também Cristo padeceu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus» (1ª Ped. 3:18).

 

Esta é uma verdade imensa, e de total importância para a alma necessitada – uma verdade que se assenta no próprio fundamento da posição cristã. É impossível que uma alma despertada, espiritualmente esclarecida, possa desfrutar da paz divinamente estabelecida até que esta tão preciosa verdade seja recebida em simplicidade de fé. Devo saber, sobre a base da autoridade divina, que todos os meus pecados foram tirados da vista de Deus para sempre; que ele mesmo se desfez deles de modo que viesse a satisfazer todas as exigências do seu trono e todos os atributos de sua natureza; que ele se glorificou a si mesmo por lançar fora os meus pecados, e isto, de uma maneira muito mais tremenda e maravilhosa que se me tivesse enviado ao inferno eterno por causa deles.

 

Sim, foi ele mesmo quem o fez. Esta é a essência e a medula de todo o assunto. Deus pôs os nossos pecados sobre Jesus, e ele nos diz isto em sua Santa Palavra, a fim de que possamos saber sobre a base da autoridade divina – uma autoridade que não pode mentir. Deus planejou assim, Deus fez assim; e assim Deus diz. Tudo vem de Deus, do principio ao fim, e nós tão somente temos que descansar nisso como meninos. Como sei que Jesus levou os meus pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro? Pela mesma autoridade que me diz que eu tinha pecados e que deveriam ser levados. Deus, em seu maravilhoso e inigualável amor, assegura-me, um pobre e culpado pecador, merecedor do inferno, que ele mesmo cuidou de todo o assunto dos meus pecados, e se livrou deles de um modo tal que veio trazer uma rica colheita de glória para o seu eterno Nome, por todo o universo, na presença de toda inteligência criada.

 

E nisto, a fé viva deve tranqüilizar a consciência. Se Deus se satisfez a si mesmo com a solução para os meus pecados, eu devo ficar igualmente satisfeito. Sei que sou um pecador – pode ser inclusive que seja o maior dos pecadores. Sei que os meus pecados são maiores em número que os cabelos da minha cabeça; que são negros como a meia-noite – negros como o próprio inferno. Sei que qualquer desses pecados, o menor deles, merece as chamas eternas do inferno. Sei  –porque a Palavra de Deus o diz– que uma simples partícula de pecado não pode jamais entrar em sua Santa presença; e que, por esta razão, não havia para mim outro destino a não ser a eterna separação de Deus.

 

Tudo isso sei, sobre a base da clara e indisputável autoridade daquela Palavra que está para sempre afirmada nos céus.

 

Mas, Oh profundo mistério da cruz, o glorioso mistério do amor redentor! Vejo o próprio Deus levando todos os meus pecados  –pecados da pior espécie– todos os meus pecados, da maneira como ele os viu e os avaliou. Vejo-o colocando todos sobre a cabeça do meu bendito Substituto, e tratando com ele ali por causa dos pecados. Vejo as ondas da justa ira de Deus –a sua ira contra os meus pecados– a sua ira que deveria me haver queimado, alma e corpo, no inferno, por toda uma terrível eternidade; eu as vejo precipitando-se sobre o Homem que ficou em meu lugar, que me representou diante de Deus, que suportou tudo o que eu merecia, com Quem um Deus santo tratou como se tivesse tratado comigo. Vejo a imparcialidade de um Juiz, a santidade, verdade e justiça tratando com os meus pecados, e me libertando deles eternamente, não deixando escapar nenhum deles! Sem conivência, sem paliativos, sem indiferença, pois o mesmo Deus tomou o caso em suas mãos. A sua glória estava em jogo; a sua imaculada santidade, a sua eterna majestade, as sublimes reivindicações do seu governo.

 

Tudo isso tinha que ser satisfeito em uma medida tal que o glorificasse diante dos anjos, homens e demônios. Ele poderia me haver enviado ao inferno por causa dos meus pecados. Eu não merecia nada menos que isso. Todo o meu ser moral, do mais profundo, merecia isto – e deveria havê-lo recebido. Não tenho nem sequer uma palavra como desculpa para um simples pensamento pecaminoso, isso para não falar de uma vida manchada pelo pecado do princípio ao fim.

 

Outros podem argumentar como quiserem a respeito da injustiça de uma eternidade de castigo para uma vida de pecado – a completa falta de proporção que há entre alguns anos de práticas más e as intermináveis eras de tortura no lago de fogo. Podem argumentar, mas creio plenamente, e o confesso sem reservas, que por um simples pecado contra um Ser tal como é o Deus que vejo na obra da cruz, eu merecia com sobras o castigo eterno, escuro, e o sombrio abismo do inferno.

 

Não estou escrevendo como um teólogo; se fosse um deles, seria uma tarefa muito simples adornar isto com uma larga lista de evidências das Escrituras a fim de provar a solene verdade do castigo eterno. Mas não; estou escrevendo como alguém que foi divinamente instruído do verdadeiro deserto que é o pecado, e este deserto, eu, calmo, deliberado, e solenemente declaro, é, e só pode ser, a eterna exclusão da presença de Deus e do Cordeiro – tortura eterno no lago que arde com fogo e enxofre.

 

No entanto – e eternas aleluias sejam dadas ao Deus de toda graça, porque, em vez de nos enviar ao inferno por causa dos nossos pecados, ele enviou o seu Filho para ser a propiciação por esses mesmos pecados. E no desenvolvimento do maravilhoso plano de redenção, vemos um Deus santo tratando com a questão dos nossos pecados, e executando juízo sobre eles na Pessoa de seu tão amado, eterno e co-igual Filho, a fim de que o pleno manancial do seu amor pudesse fluir em nossos corações. «Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou a seu Filho em propiciação por nossos pecados»

(1ª João 4:10).

 

Portanto, isto deve trazer paz à consciência, se tão somente for recebido com simplicidade de fé. Como é possível que alguém creia que Deus se satisfez a si mesmo quanto aos pecados dele, e ao mesmo tempo ele mesmo não ter paz? Se Deus nos disser: «Não me lembrarei mais do seu pecado» (Jer. 31:34) que mais poderíamos desejar como fundamento de paz para a nossa consciência? Se Deus me assegurar que todos os meus pecados estão invisíveis como em densa escuridão  –que foram lançados para trás de Si – e que saíram para sempre de diante dos seus olhos, por que é que eu não teria paz? Se ele me mostrar o Homem que carregou os meus pecados sobre a cruz, agora coroado à mão direita da Majestade nas alturas, por acaso a minha alma não deveria entrar no perfeito descanso no que se refere aos meus pecados? Com toda segurança.

 

A libertação do pecado. No entanto, bendito seja o Deus de toda graça, porque não é só a remissão dos pecados que nos anuncia por meio da morte expiatória de Cristo. Temos também completa libertação do presente poder do pecado. Este é um grande assunto para todo verdadeiro amante da santidade. De acordo com a gloriosa dispensação da graça, a mesma obra que assegura a completa remissão dos pecados quebrou para sempre o poder do pecado. Não se trata apenas de terem sidos apagados os pecados da vida, mas o pecado da natureza está condenado. O crente tem o privilégio de considerar-se a si mesmo como morto para o pecado.

 

«Com Cristo estou juntamente crucificado, e já não vivo eu, mas Cristo vive em mim» (Gál. 2:20). Isto é cristianismo. O velho eu crucificado, e Cristo vivendo em mim. O cristão é uma nova criação. As coisas velhas já passaram. A morte de Cristo encerrou para sempre a história do velho eu; e, portanto, mesmo que o pecado habite ainda no crente, o seu poder está quebrado e eliminado para sempre. Não somente a culpa que ele levava está paga, mas o seu terrível domínio também foi totalmente destruído.

 

Este é o glorioso ensino de Romanos 6 a 8. O estudioso atento desta magnífica epístola observará que a partir do capítulo 3:21, até o capítulo 5:11 temos a obra de Cristo aplicada à questão dos pecados; e do capítulo 5:12 até o final do capítulo 8 temos outro aspecto da obra de Cristo, quer dizer, a sua aplicação à questão do pecado – «do nosso velho homem ... o corpo do pecado ... o pecado na carne». Não há, nas Escrituras algo como o perdão do pecado. Deus condenou o pecado; Deus não o perdoou – uma distinção que é imensamente importante. Deus demonstrou a sua eterna aversão ao pecado na cruz de Cristo. Ele expressou e executou o seu julgamento sobre o pecado, e agora o crente pode considerar-se ligado e identificado com

Aquele que morreu na cruz e que ressuscitou dentre os mortos.

 

Ele saiu da esfera do domínio do pecado e entrou naquela esfera nova e bendita onde a graça reina pela justiça. «Mas graças a Deus, diz o apóstolo, que ainda que éramos escravos do pecado (antes, não agora), obedecestes de coração a aquela forma de doutrina a qual fostes entregues; e libertados do pecado(não meramente tendo os pecados perdoados), viestes a ser servos da justiça. Falo como homem, por vossa humana fraqueza, que assim como para iniqüidade apresentastes os vossos membros para servir à imundície e à iniqüidade, assim agora apresenteis os vossos membros para a santificação para servir à justiça. Porque quando éreis escravos do pecado, éreis livres a respeito da justiça. Mas que fruto tínheis daquelas coisas das quais agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora que fostes libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes por vosso fruto a santificação, e por fim, a vida eterna.» (Rom. 6:17-22).

 

Aqui está o precioso segredo de uma vida santa. Estamos mortos para o pecado; vivos para Deus. O reino do pecado terminou. O que o pecado tem que ver com um homem morto? Nada. Bem, então, o crente morreu com Cristo; está sepultado com Cristo; está ressuscitado com Cristo para andar em novidade de vida. Ele vive sob o precioso reino da graça, e tem como fruto a santificação. O homem que faz uso da abundante graça divina como desculpa para viver no pecado e nega o próprio fundamento do cristianismo. «Porque se morremos para o pecado, como ainda viveremos nele?» (Rom. 6:2). Impossível. Seria uma negação de toda a posição cristã. Imaginar o cristão como alguém que deve seguir, dia após dia, semana após semana, mês após mês, e ano após ano, pecando e arrependendo-se, pecando e arrependendo-se, é degradar o cristianismo e falsificar a posição cristã como um todo. Dizer que um cristão deve seguir pecando porque ele tem a carne em si é ignorar a morte de Cristo em um dos seus grandes aspectos, e reputar como mentira todo o ensino dos apóstolos em Romanos capítulos 6 a 8.

 

Graças a Deus, não existe razão do por que o crente deveria cometer pecado. «meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis» (1ª João 2:1). Não deveríamos justificar nem sequer o mais simples pensamento pecaminoso. Trata-se do nosso doce privilégio de andar na luz, como Deus está na luz; e com toda certeza, quando estamos andando na luz, não estamos cometendo pecados, ou saímos da luz e cometemos pecado; mas a idéia normal, verdadeira e divina de um cristão é a de alguém andando na luz, e não cometendo pecado. Um pensamento pecaminoso é estranho ao verdadeiro caráter do cristianismo. Temos pecado em nós, e vamos continuar tendo-o enquanto estivermos no corpo; mas se andarmos no Espírito, o pecado em nossa natureza não irá se manifestar na vida. Dizer que não precisamos pecar é a afirmação de um privilégio cristão; dizer que não podemos pecar é um engano e ilusão.

 

b) O que Cristo está fazendo para nós

 

Considerando que nossa condição é imperfeita e que o nosso andar é imperfeito; considerando também que a nossa comunhão é suscetível de ser interrompida, é por esta razão que necessitamos do atual ofício de Cristo por nós.

 

Jesus vive à mão direita de Deus por nós. A sua ativa intervenção a nosso favor não cessa nem por um momento. Ele atravessou os céus em virtude da expiação consumada, e ali exerce continuamente a sua perfeita intercessão por nós diante de Deus. Ele está ali como a nossa justiça permanente, a fim de nos manter sempre em divina integridade da posição e da relação para a qual a sua morte expiatória nos introduziu. Por isso lemos em Romanos 5:10: «Porque se sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando reconciliados, seremos salvos por sua vida». Assim também lemos em Hebreus 4:14-16: «portanto, tendo um grande sumo sacerdote que transpassou os céus, Jesus o Filho de Deus, retenhamos a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas um que foi tentado em tudo segundo a nossa semelhança, mas sem pecado. Aproximemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para alcançar misericórdia e achar graça para o oportuno socorro».

 

E também no Heb. 7:24-25: «Mas este, porque permanece para sempre, tem um sacerdócio imutável; pelo qual pode também salvar perpetuamente os que por ele se achegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles». E em Hebreus 9:24: «Porque Cristo não entrou no santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio céu para apresentar-se agora por nós diante de Deus».

 

Temos também, na 1a Epístola de João, o mesmo assunto representado sob um aspecto um pouco diferente. «meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e se alguém tiver pecado, temos um advogado para com o Pai, a Jesus Cristo o justo. E ele é a propiciação por nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (1a João 2:1-2).

 

Quão precioso é tudo isto para o cristão sincero, que está sempre consciente –perfeita e dolorosamente consciente– de sua fraqueza, necessidade e fracasso! Como é possível que alguém que veja estas passagens que acabamos de citar possa pôr em dúvida a necessidade do cristão de um ininterrupto ministério de Cristo em seu favor? Não é espantoso que algum leitor da Epístola aos Hebreus, algum observador da condição e do andar do crente mais fiel, pudesse ser achado negando a aplicação do sacerdócio e intercessão de Cristo pelos cristãos hoje?

 

A favor de quem (permita nos perguntar) Cristo está vivendo e atuando agora à mão direita de Deus? Será a favor do mundo? Certamente que não; pois ele diz, em João 17:9: «Não rogo pelo mundo, mas sim pelos que me deste, porque são teus». E quem são esses? Tratar-se-á por acaso do remanescente judeu? Não; esse remanescente ainda não entra em cena. Quem são eles, então? Crentes, filhos de Deus, cristãos, que estão agora passando por este mundo pecaminoso, sujeitos a falhar e a serem enganados a cada passo do caminho. Estes são o objeto do ministério sacerdotal de Cristo. Ele morreu para fazê-los limpos; ele vive para mantê-los limpos. Por sua morte ele expiou a nossa culpa, e por sua vida ele nos limpa, por meio da ação da Palavra pelo poder do Espírito Santo. «Este é Jesus Cristo, que veio mediante água e sangue; não mediante água somente, mas mediante água e sangue» (1ª João 5:6). Temos expiação e somos limpos por meio de um Salvador crucificado. A dupla fonte emanou do flanco ferido de Cristo, morto por nós. Todo louvor seja dado ao seu Nome!

 

Temos tudo, em virtude da preciosa morte de Cristo. A nossa culpa é o problema? Ela foi cancelada pelo sangue da expiação. São nossas faltas diárias? Temos um Advogado para com o Pai – um grande Sumo Sacerdote para com Deus. «Se alguém tiver pecado» (1ª João 2:1). Ele não diz «se alguém se arrepender». Não há dúvida de que há, e deve haver arrependimento e julgamento-próprio; mas como eles são produzidos? Aqui está: «Temos um Advogado para com o Pai». E sua sempre prevalecente intercessão consegue, para aquele que peca, a graça do arrependimento, o julgamento próprio e a confissão.

 

É algo de suma importância para o cristão ter bem claro o que se refere esta verdade cardeal da intercessão advocatícia ou sacerdócio de Cristo. Acostumamos erroneamente a pensar que precisamos fazer algo por nós mesmos para resolver a questão entre a nossa alma e Deus. Esquecemos-nos até do por que estamos conscientes das nossas falhas – antes que nossa consciência se tornasse consciente do fato já nosso Advogado esteve diante do Pai para tratar disso; e é por sua intercessão que temos a graça do nosso arrependimento, confissão e restauração. «Se alguém tiver pecado…», temos o que? O sangue para o qual devemos recorrer? Não; repare cuidadosamente o que o Espírito Santo declara. «Temos um advogado para com o Pai, a Jesus Cristo o justo». E por que diz, «o justo»? Por que não diz, «o bondoso», «o misericordioso», ou «o que se compadece de nós»? Por acaso ele não é tudo isso? Certamente; mas nenhum desses atributos caberia aqui, ainda que pudessem estar. O bendito apóstolo coloca diante de nós a consoladora verdade de que em todos os nossos enganos, pecados e falhas, temos um representante «justo» diante do Deus justo, o Pai santo, de modo que as nossas questões nunca terminem em fracasso. Ele vive sempre para fazer intercessão por nós, e porque ele vive sempre «pode salvar perpetuamente» – salvar até o fim– «aos que por ele se achegam a Deus».

 

Que firme consolo existe aqui para o povo de Deus! E quão necessário para as nossas almas é estar fundamentados no conhecimento e compreensão disso! Há alguns que possuem uma compreensão imperfeita da verdadeira posição de um cristão, por não compreender o que Cristo fez por eles no passado; outros, ao contrário, têm uma visão tão unilateral da condição do cristão que não percebem a nossa necessidade do que Cristo está agora fazendo por nós. Ambos devem ser corrigidos. Os primeiros ignoram a extensão e o valor da expiação; os últimos ignoram o lugar e a aplicação que tem a intercessão advocatícia. A perfeição da nossa posição é tal, que o apóstolo diz: «Pois como ele é, assim somos nós neste mundo» (1ª João 4:17). Se isso fosse tudo, certamente não teríamos necessidade do sacerdócio ou da intercessão advocatícia; mas a nossa condição é tal, que o apóstolo precisa dizer: «Se alguém tiver pecado…». Isto prova quão continuamente necessitamos do Advogado. E, bendito seja Deus, nós o temos continuamente; nós o temos vivendo sempre por nós. Ele vive e serve nas alturas. Ele é a nossa justiça substitutiva diante do nosso Deus. Ele vive para nos manter justos no céu, e para nos fazer justos quando tivermos errado na terra. Ele é o vínculo divino e indissolúvel entre as nossas almas e Deus.

 

Continua...

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